Cerca de 40% da população adulta do Rio Grande
do Norte, o equivalente a 960 mil pessoas, possui pelo menos uma doença crônica
não transmissível (DCNT), segundo dados inéditos da Pesquisa Nacional de Saúde
(PNS). O levantamento, realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que essas
enfermidades atingem principalmente o sexo feminino (45,2%) – são 584 mil
mulheres e 376,2 mil homens (33,5%) portadores de enfermidades crônicas. No
Brasil, o índice atinge cerca de 40% da população, o equivalente a 57,4 milhões
de pessoas.
As doenças crônicas não
transmissíveis são responsáveis por mais de 72% das causas de mortes no Brasil.
A hipertensão arterial, o diabetes, a doença crônica de coluna, o colesterol
(principal fator de risco para as cardiovasculares) e a depressão são as que
apresentam maior prevalência no país. A existência dessas doenças está
associada a fatores de risco como tabagismo, consumo abusivo de álcool, excesso
de peso, níveis elevados de colesterol, baixo consumo de frutas e verduras e
sedentarismo.
“Esta pesquisa traz o retrato atual
da saúde da população. Temos de trabalhar de forma intersetorial para reverter
esse quadro, incentivando a prática de exercícios físicos e outras medidas
voltadas a um estilo de vida mais saudável. As equipes de Saúde da Família têm
tido uma atuação importante nessa área, com a realização de grupos de caminhada
e de dança, e muitas cidades tem valorizado as ciclovias, por exemplo. Temos de
romper esse hábito de sentar na frente da televisão e chamar a atenção da
população sobre o sedentarismo. O Ministério da Saúde, agora, tem um desafio
ainda maior com o Mais Especialidades, direcionando o nosso olhar aos dados da
PNS”, destacou o ministro da Saúde, Arthur Chioro.
O estudo classificou ainda a presença
das doenças crônicas por região, mostrando que o Sul e o Sudeste obtiveram os
maiores índices – com 47,7% e 39,8%, respectivamente. Em números absolutos,
isso significa 10,3 milhões de habitantes do Sul e 25,4 milhões do Sudeste. O
Centro-oeste é a terceira região com maior prevalência – 4 milhões de pessoas
(37,5%), seguido do Nordeste e o Norte, com 36,3% e 32% dos habitantes – sendo
14 milhões de nordestinos e 3,4 milhões dos que vivem na região Norte. Em todas
as regiões as mulheres tiveram maior prevalência quando comparadas aos homens.
Isso ocorre pelo fato delas procurarem atendimento em saúde de forma espontânea
com mais frequência do que os homens, facilitando assim o diagnóstico de alguma
possível doença crônica.
Realizada entre agosto de 2013 a
fevereiro de 2014, a PNS tem como objetivo servir de base para que o Ministério
da Saúde possa traçar suas políticas públicas para os próximos anos. Durante o
levantamento, foram entrevistados 63 mil adultos em domicílio, escolhidos por
meio de sorteio entre os moradores da residência para responder ao
questionário. Essa é a primeira parte da pesquisa; uma segunda fase trará
informações resultadas dos exames de sangue, urina e aferição da pressão
arterial dos brasileiros.
HIPERTENSÃO
E DIABETES
Doenças crônicas de grande magnitude,
sendo também as mais graves, a hipertensão e o diabetes foram alvo de profunda
investigação da PNS. A pesquisa revelou que a hipertensão atinge 503 mil
pessoas acima de 18 anos no Rio Grande do Norte, o que corresponde a 20,8% da
população. Importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares, a doença aparece mais no sexo feminino, com prevalência em
24,9% das mulheres e 16,1% dos homens no Rio Grande do Norte. No Brasil, a
hipertensão atinge 31,3 milhões de adultos, o que corresponde a 21,4% da
população.
A proporção de hipertensos no país
aumenta com o passar da idade. Entre os jovens, de 18 a 29 anos, o índice é de
apenas 2,8%; dentre as pessoas de 30 a 59 anos é de 20,6%, passando para 44,4%
entre 60 e 64 anos, 52,7% entre 65 e 74 anos e 55% entre as pessoas com 75 anos
ou mais. O acesso à informação também é visto como um fator de proteção. A PNS
revela que 31% das pessoas sem instrução ou com fundamental incompleto
afirmaram ter a doença. A proporção se reduz quanto maior a escolaridade –
caindo para 16,7% entre os com ensino fundamental. No entanto, em relação às
pessoas com superior completo o índice é de 18,2%.
O levantamento mostra também que o
acompanhamento da Atenção Básica tem sido fundamental para reduzir os desfechos
mais graves da doença. De acordo com a PNS, 69,7% dos hipertensos receberam
assistência médica no último ano, sendo que 45,9% foram tratados em uma Unidade
Básica de Saúde (UBS). Destes, 56,4% afirmaram que o médico que os atendeu na
última consulta era o mesmo das anteriores e outros 92% afirmaram que
conseguiram realizar todos os exames complementares. Já 87% dos pacientes foram
encaminhados para consulta com médico especialista e conseguiram o atendimento.
Outro importante dado apontado pela
PNS é a obtenção do medicamento para o tratamento. No Brasil, 35,9% afirmaram
obter pelo menos um medicamento para hipertensão por meio do Programa Farmácia
Popular. Além disso, 91,1% receberam recomendações médicas para reduzir a
ingestão de sal; 87,4% para a realização de acompanhamento regular; 88,4% para
a manutenção de uma alimentação saudável e 84,7% para a manutenção do peso
adequado.
O sudeste é a região com maior
prevalência da hipertensão arterial (23,3%), seguida pelo Sul e o Centro-Oeste,
com 22,9% e 21,2%. Nordeste e Norte têm as menores prevalências, registrando
índices de 19,4% e 14,5% da população. Somente 3% dos entrevistados afirmaram
nunca terem aferido a pressão arterial.
Já o diabetes, transtorno metabólico
causado pela elevação da glicose no sangue, atinge 135 mil pessoas do Rio
Grande do Norte – o que corresponde a 5,6% da população adulta local. As
mulheres (7%), mais uma vez, apresentaram maior proporção da doença do que os
homens (3,9%) – 91 mil contra 44 mil habitantes. Em todo o Brasil, 9 milhões de
brasileiros – o que corresponde a 6,2% da população adulta – possuem a doença.
Assim como no caso da hipertensão, no
Brasil, quanto maior a faixa etária maior a prevalência do diabetes: 0,6% entre
18 a 29 anos; 5% de 30 a 59 anos; 14,5% entre 60 e 64 anos e 19,9% entre 65 e
74 anos. Para aqueles que tinham 75 anos ou mais de idade, o percentual foi de
19,6%.
Em relação à escolaridade, percebe-se
que no país as pessoas sem instrução e com fundamental incompleto apresentaram
maior predominância do diabetes (9,6%). Já as com superior completo
apresentaram apenas 4,2% de prevalência. O Sudeste é a região com a maior
proporção de diagnósticos médicos (7,1%), com 4,5 milhões de habitantes
diabéticos. O Centro-Oeste aparece em segundo lugar (6,5%), com 696 mil pessoas,
seguido pelo Sul – com 1,3 milhão de doentes (6,2%). Nordeste e Norte são as
regiões com menor prevalência – 2 milhões de nordestinos (5,4%) e 464 mil
habitantes do Norte (4,3%).
Dados nacionais sobre o atendimento
mostram, por exemplo, que a Unidade Básica de Saúde (UBS) também foi o
principal local mencionado pelos entrevistados com diabetes que receberam
assistência médica nos últimos 12 meses – 47% da população com a doença, ou
seja, 3,7 milhões de pessoas foram atendidas na Atenção Básica. Destes, 65,2%
dos portadores da enfermidade questionados foram atendidos pelo mesmo médico,
95,3% conseguiram fazer todos os exames solicitados e 83,3% foram consultados
com especialistas após encaminhamento. Quanto se trata das complicações de
saúde mais comuns, entre os que disseram ter a doença – tanto para os com mais
ou menos de 10 anos de diagnóstico – destacam-se problemas de vista, os
circulatórios e nos rins.
PROBLEMA
CRÔNICO DE COLUNA E COLESTEROL CHAMAM A ATENÇÃO
A Pesquisa Nacional de Saúde traz,
pela primeira vez, o percentual de brasileiros que afirmam ter um diagnóstico
médico de problema crônico de coluna. Atualmente, 433 mil adultos são
acometidos pela doença no estado, o que corresponde a 17,9% da população. Os
problemas lombares são os mais comuns e a prevalência também é maior entre as
mulheres (19,2%), contra 16,4% dos homens. Atualmente, 27 milhões de adultos no
país são acometidos pela doença, o que corresponde a 18,5% da população.
Em todo país, a doença crônica de
coluna está diretamente ligada ao avançar da idade, atingindo 8,7% dos jovens
de 18 a 29 anos, indicador que aumenta para 26,6% das pessoas acima de 60 anos
ou mais. No grupo com mais de 65 anos as proporções são ainda maiores,
atingindo 28,9% deles. Um destaque levantado pela PNS está no fato de que 53,6%
das pessoas que dizem ter a doença garantiram fazer tratamento. A maioria, 40%
desse grupo, fez referência ao uso de medicamentos ou injeção, enquanto outros
18,9% praticam exercício físico ou fazem fisioterapia.
Ao contrário das demais doenças
crônicas alvo da pesquisa, essa foi a única em que a prevalência foi menor na
área urbana do que na rural – com percentuais de 18% e 21,3%, respectivamente.
As proporções para Norte, Sudeste e Centro-Oeste, estão no mesmo patamar, com
prevalência de 16,9%. O Nordeste apresentou prevalência de 19,2% e a região Sul
foi identificada como a que possui os maiores índices de problemas de coluna,
com 23,3% da população.
No caso do colesterol, a PNS
identificou que 328 mil moradores do Rio Grande do Norte com mais de 18 anos
apresentam colesterol alto, o que representa 13,6% da população adulta. Sendo
17,2% das mulheres e 9,5% dos homens. Quando analisados os dados nacionais, a
PNS aponta que 18,4 milhões de brasileiros apresentam colesterol alto, 12,5% da
população adulta.
Já a depressão, distúrbio afetivo que
ocasiona queda do humor, atualmente atinge 166 mil adultos no Rio Grande do
Norte. O diagnóstico da doença corresponde a 6,9% da população do estado
– sendo que a prevalência é de 9,8% entre as mulheres e 3,5% nos homens. Já a
prevalência da depressão no país chega a 11,2 milhões ou 7,6% da população.
Em todo o país, dos que afirmaram
receber o diagnóstico de depressão, 52% disseram usar medicamentos, 16,4% fazem
psicoterapia e 46,4% receberam assistência médica nos últimos 12 meses. Em
relação ao local de atendimento, 47,7% mencionaram que foram atendidas em algum
serviço da rede pública – sendo 33,2% em Unidades Básicas de Saúde, 9,2% em
hospitais públicos e 5,3% em Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
MINISTÉRIO
DA SAÚDE ATUA NA PREVENÇÃO E O COMBATE DE DOENÇAS CRÔNICAS
As Doenças Crônicas não
Transmissíveis (DCNT) se caracterizam como um grande problema de saúde dos
brasileiros, conforme comprova a PNS. São importante causa de mortalidade no país,
além causarem outras enfermidades que afetam a capacidade e a qualidade de vida
da população adulta.
Por isso, o Ministério da Saúde (MS)
lançou, em 2011, o Plano de Enfrentamento das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis no Brasil, com metas e ações previstas até 2022. Nesse contexto
estão previstas a redução da mortalidade por DCNT em 25%, do consumo de sal em
30%, do tabaco em 30%, do álcool abusivo em 10%, da inatividade física em 10%,
além do aumento da ingestão de frutas, legumes e verduras em 10% – com a
expectativa de reduzir a hipertensão em 25% e frear o crescimento do diabetes e
da obesidade.
Ainda com enfoque na prevenção e
combate das doenças crônicas, o Ministério da Saúde tem investido no
atendimento oferecido pela Atenção Básica, por meio da Estratégia Saúde da
Família (ESF). O monitoramento realizado pelo Ministério permitiu concluir que
quanto maior a cobertura da (ESF) menor é a proporção de internações por
condições sensíveis à atenção básica, como diabetes e hipertensão. A cobertura
da estratégia, que era de 49,2% em 2008, subiu para 55,3% em 2012. Já o número
de internações por condições sensíveis à atenção básica, que era de 35,8% em
2008, caiu para 33,2% em 2012.
Nesse sentido, o Programa Mais
Médicos levou mais de 14 mil profissionais para cerca de 3,7 mil municípios,
beneficiando mais de 50 milhões de brasileiros em todo o país. Somente com
esses médicos, o número geral de consultas realizadas em Unidades de Básicas de
Saúde (UBS) cresceu quase 35% entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014. Entre
esses atendimentos, tiveram destaque os de pessoas com diabetes, que aumentaram
cerca de 45%, e os de pacientes com hipertensão arterial, que aumentaram 5%. O
encaminhamento a hospitais diminuiu em 20%, o que mostra um maior grau de
resolubilidade da Atenção Básica.